IV Oficina de Formação em Comunicação da Rede Wayuri

De Wuhan, na China, até as comunidades indígenas no Alto Rio Negro: a pandemia da Covid-19 já é, sem sombra de dúvidas, um evento histórico sem precedentes marcando a história da humanidade.

É uma doença que apareceu pela primeira vez na cidade chinesa cujo nome poucos sabiam pronunciar – Wuhan. Mas que, nos últimos dois anos, tem afetado a vida de milhares de pessoas.

De fato, a Covid-19 expôs as contradições de um mundo cada vez mais conectado pela informação, mas ainda dividido entre os que têm acesso aos recursos e os que não têm. É o que vemos na distribuição desigual de vacinas entre os continentes.

Uma forte polarização política também surgiu em vários países na esteira da pandemia de Covid-19. E, aqui, a disseminação de informações falsas sobre a doença e sobre os seus riscos reais são grandes ameaças.

No caso específico das comunidades indígenas do Brasil, a disseminação de informações falsas põe em risco a saúde de muitas pessoas e são uma ameaça à sua existência.

Além disso, é verdade que as informações falsas sobre os riscos da pandemia ameaçam a democracia, ao afastarem de cada cidadão o direito à informação de qualidade.

Porém, é também verdade que oferece oportunidades para que os cidadãos – e principalmente os comunicadores – aperfeiçoem as suas técnicas para chegar à informação factual e precisa.

É neste contexto que surge o projeto da “IV Oficina de Formação em Comunicação” no Alto Rio Negro, realizada entre os dias 10 e 18 de janeiro de 2022, em São Gabriel da Cachoeira.

São as histórias dos comunicadores indígenas sobre a Covid-19 contadas através de um podcast. Embarque nesta descoberta!

Escute Aqui!

Neste episódio produzido pelos comunicadores indígenas do rio Negro durante a IV oficina de comunicação, você vai conhecer o trabalho de enfrentamento à pandemia de Covid-19 feito pelas comunidades indígenas do Noroeste Amazônico. As ameaças, desafios, soluções locais e também as perdas vividas neste período desafiador para toda a humanidade. As vozes deste podcast pertencem aos comunicadores de 23 povos originários da região mais preservada da Amazônia, no Brasil, na fronteira com a Colômbia e a Venezuela. A proposta deste podcast também foi construir coletivamente uma forma de narrar histórias e valorizar os saberes locais, tendo a orientação das oficineiras Paula Sacarpin, da rádio Novelo, e Letícia Leite, da Vem de Áudio (Copiô, Parente e Papo de Parente). 

Assista ao vídeo da oficina

O processo formativo e a construção coletiva

Devido à pandemia de Covid-19, a Rede Wayuri deixou de realizar oficinas presenciais de formação em comunicação nos anos de 2020 e 2021. No entanto, durante esse período o trabalho dos comunicadores indígenas levando informações para as suas comunidades e combatendo notícias falsas a respeito da doença nunca foi tão relevante. 

O interesse das comunidades rionegrinas em se apropriar de ferramentas e técnicas de comunicação foi impulsionado nestes últimos anos, mostrando o valor do jornalismo local na Amazônia e que, de fato, informação correta salva vidas. Com essa valorização, a IV Oficina de Formação em Comunicação reuniu um número recorde de comunicadores indígenas do rio Negro, com mais de 60 participantes. 

As oficinas de formação da Rede Wayuri são um processo formativo dinâmico, de fluxo contínuo, que atende as necessidades e interesses dos comunicadores indígenas e constrói

coletivamente o trabalho da comunicação indígena feita em muitas línguas no rio Negro.

Com foco na produção de podcasts narrativos e no aperfeiçoamento de técnicas de roteiro e edição, a oficina contou com a Rádio Novelo (Paula Scarpin), principal referência no universo de podcasts no Brasil, e a produtora Vem de Áudio (Letícia Leite – podcasts Copiô, Parente e Papo de Parente) nesta construção.

Realizada pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), a IV Oficina da Rede Wayuri contou pela primeira vez com a parceria do IDEM (Instituto de Democracia e Mídia da Alemanha) e da Cooperação Alemã. A chegada de novos parceiros nos alegra e fortalece o trabalho pela pluralidade de vozes na comunicação no Brasil.

Juliana Radler • Analista de Comunicação do Programa Rio Negro do ISA e coordenadora da IV Oficina

Comunicação e os impactos do coronavírus nas comunidades indígenas

Os povos indígenas vivem um elevado grau de marginalização socioeconômica e tornaram-se ainda mais vulneráveis durante a pandemia. A Covid-19 agravou desigualdades pré-existentes no mundo e também no Brasil, com impactos ainda mais severos sobre as populações indígenas. Essas enfrentam um duplo desafio: a Covid-19 e a falta de acesso à informação sobre o vírus e às medidas preventivas.

Foi neste contexto que o Instituto para Democracia e Mídia (IDEM) decidiu iniciar e apoiar um projeto que proporcionasse a criação de conteúdos informativos sobre a Covid-19 nas

comunidades indígenas brasileiras. O Alto Rio Negro, no noroeste amazônico, mostrou-se uma região frutífera para este propósito, com a sua diversidade cultural e pela existência de uma rede já articulada de comunicadores locais e parceiros como a Foirn e o ISA.

Pensamos e apoiamos que os conteúdos devam valorizar a riqueza linguística da região. Além disso, o nosso objetivo foi e é, sobretudo, chamar a atenção para os graves impactos da pandemia do coronavírus nas populações indígenas no Brasil.

Ulrike Fischer-Butmaloiu,  Coordenadora do Instituto para Democracia e Mídia • IDEM

© FOIRN 2022 | TODOS OS DIREITOS RESERVADOS